Laíssa Limeira
Laíssa Limeira é uma geógrafa, de 26 anos. Quando criança morava junto com a avó, seus dois irmãos e muitos primos, no bairro Lagamar, onde permaneceu até seus 20 anos. Na adolescência, ela até se imaginava morando em outra casa, por questões de comodidade. No entanto, não imaginava que essa mudança viria a acontecer de maneira tão violenta.
Nunca imaginou que aqueles que deveriam assegurar seu direito à moradia a tirariam de sua casa. A obra de mobilidade, para a Copa do Mundo de 2014, do VLT (veículo leve sobre trilhos), viria a atingir não apenas Laíssa e sua família, mas outras 21 comunidades.
Ela e sua família tentaram resistir, principalmente sua avó que morava no Lagamar há mais de 60 anos. No entanto, oferecendo um valor insuficiente de indenização, sem diálogo e sem pensar em políticas habitacionais que levam em consideração fatores externos, como a violência, os laços sentimentais e a história construída em sua morada, os fiscais do governo a desapropriaram de sua casa.
Laíssa e a família então se mudaram para o bairro São João do Tauape, onde enfrentaram o desafio de se manterem financeiramente em um bairro com preços bem mais elevados, ainda assim, ela conta que teve “sorte”, pois muitas das famílias atingidas pelo VLT nunca sequer foram indenizadas.
Em 2017, por meio de um trabalho da faculdade, sobre remoção em áreas de Zonas Especiais de Interesse Social de Fortaleza (Zeis), Laíssa se engajou na luta por moradia digna. Adriana, hoje uma de suas principais inspirações na causa, a apresentou às demais pessoas do movimento, onde hoje ela já está há 6 anos. Também foi por conta desse trabalho que ela se deu conta de todo o processo violento pelo qual tinha passado.
Seu sonho de que todas as pessoas tenham uma moradia adequada a instiga tanto que esse se tornou o tema de sua pesquisa de mestrado. Laíssa estuda direito à moradia através das Zonas Especiais de Interesse Social de Fortaleza, tendo sua área de estudo nos bairros Lagamar, onde cresceu, e no bairro Mucuripe, por ser uma Zeis com processos de remoção semelhantes, onde o VLT também desapropriou famílias. Assim, ela concilia sua rotina de pesquisadora com a de militante no coletivo Frente de Luta por Moradia Digna.
Laíssa enxerga que as pessoas que não se comovem com as questões por moradia não se importam por já estarem vivendo confortavelmente e por desconhecem a realidade das demais pessoas que moram em situação irregular ou que nem moram em lugar nenhum. Ela também compreende que mesmo as famílias que são desapropriadas podem ter certa relutância em participar do movimento, pois não é uma jornada fácil.
O momento mais difícil pelo qual passou desde que se engajou com as questões de moradia digna foi a pandemia, que abalou sua saúde mental de diferentes formas. Além de não poder mais se reunir presencialmente com seus outros companheiros de luta, Laíssa viu constantemente os despejos, mesmo ilegais, acontecendo.
Mesmo tentando sempre se prevenir das situações mais perigosas, ela conta que o medo a limita, tanto por envolver seus traumas psicológicos, como também por envolver o medo da violência policial. Diversas vezes ela teve conhecimento do quanto as remoções podem ser violentas.
O pessimismo e a vontade de desistir muitas vezes tomam conta dela, pois se sente sem saída, totalmente limitada e sem esperanças no governo, que ao seu ver, mais prejudica do que ajuda. Governo esse que não dá a relevância necessária aos direitos humanos e às questões de moradia digna, exceto em tempos de eleição, quando sempre aparece algum político fazendo promessas bem pontuais e assistencialistas, mexendo com o emocional das pessoas.
Ainda assim, em meio a tantos desafios ela persiste, as conquistas pontuais mostram para ela que seu esforço tem resultado. Seu sonho de que todas as Zeis sejam efetivadas e de que todas pessoas tenham direito a uma moradia digna e o direito à cidade a mantém firme.
“Eu gostaria que as outras pessoas que passam pelas mesmas coisas e as mesmas situações que eu passei morassem hoje com qualidade de vida.”